Monday 4 August 2008

Paris



Paris me lembrou o Rio, não sei exatamente em quê. Talvez no charme, talvez no sol, talvez no verde do Sena e no azul do céu... Talvez no seu contraste com Londres. As ruas são largas, cercadas por prédios suntuosos, todos invariavelmente do mesmo cinza amarelado e morto. Não sei... aos meus olhos Paris tem a luminosidade de Monet, mas lhe faltam as cores de Van Gogh.


As igrejas merecem um parágrafo. São todas tão lindas, tão grandes. A beleza gótica e escura de Notre Dame, o caledoscópio de luz nos vitrais da Saint Chapelle, os seios brancos recortados no céu pela Sacre Coeur... O triste é que, em todas elas, por maiores e mais belas que sejam, não se pode rezar uma missa em paz. Os turistas expulsaram o sagrado. Com suas - ou melhor, nossas - câmeras digitais de 700 fotos, posando com um sorriso de cera ao lado de túmulos, interrompendo preces, pagando um ingresso para entrar e consumindo cada centavo-centímetro do lugar, banalizando o olhar, esvaziando o sentir. Veronique e Clement que o digam - um casal que bravamente tentava se concentar no próprio casamento durante o entra-e-sai globalizado que se dava. Vocês podem me achar dramática e hipócrita, mas de fato me toca perceber que em catedrais tão grandes não caiba nem um dedinho de Deus.


A Champ-Elysee tb me passou um ar de carioquice. Com um charme meio Leblon, é claro. Lojas, cafés com mesinhas na calçada... tudo muito caro e muito lindo, de um chique displicente... O metrô, eu achei totalmente anos 70. Para quem vêm de Londres, aliás, Paris toda parece estar há alguns anos no passado. Não que isso seja ruim, não me entendam mal. É apenas diferente. Diferente o suficiente para me chamar atenção.


Acho que uma das coisas boas dessa viagem foi que eu me dei conta que tão importante quanto para onde você vai é de onde você vem.


Eu fui para Paris, mas vim de Londres.

E antes disso, fui para Londres, mas vim do Brasil.


E por isso meu olhar, ricamente contaminado, vai comparando o que não tem comparação. Vai se admirando com a diversidade e com a semelhança de cada rosto, rua, praça, de cada fim de tarde... Me impressiona muito como o ser humano pode ser tão diferente e ao mesmo tempo tão igual. Como o clima, a história, as relações nos fazem singulares em cada parte do mundo. Os textos da Psicologia sócio-histórica, apresentados para mim pela Lilian, tomam um contorno de realidade e faço das minhas andanças quase que uma pesquisa antropológica.


Na volta para casa - é... Londres agora é minha casa! - carrego uma mala pesada. Nela tem mar de Ipanema e becos de Olaria, tijolos vermelhos de Beckenham, nuvens cinzas de Londres, e agora também, estátuas, vitrais, quadros e a luz de Paris.










Tuesday 1 July 2008

Just a perfect day!

Hj o sol do Brasil veio me fazer uma visita. O dia foi quente, tão quente que meu biquini finalmente saiu da mala e conheceu o jardim daqui de casa, onde eu e minha vizinha brasileira nos estiramos para tentar bronzear pelo menos um tico nossas barrigas branquelas....

Mais tarde, andando por ruas inexploradas da minha vizinhança, percebi - mais uma vez - o quanto tudo aqui é lindo.

Árvores a cada dois passos, casinhas de tijolos que parecem saídas da ilustração de um papel de carta, jardim com rosas tão abertas e extravagantes que chegam a ser um ultrage (dá até vontade de roubar umazinha...). O cheiro no ar é de grama cortada, o barulho que se ouve é o vento nas folhas e os pássaros cantando...

Enquanto janto, vejo uma raposa se coçar e espreguiçar no nosso quintal... O céu azul só foi embora, agora, âs 9 e meia da noite, dando lugar a um lilás morno e conforting...

Tudo tão lindo e tão perfeito que, pela primeira vez desde que cheguei, senti que poderia ficar... Senti que poderia ser feliz morando de vez nesse país...

Mas é claro que o inverno vai chegar, que a saudade vai bater, que o visto vai expirar...

E por isso mesmo tudo é ainda mais lindo...
E por isso, deixo minhas janelas bem abertas...
Para que o sol, as cores, os sons e sabores dessa terra entrem em mim e deixem a paisagem, tb aqui de dentro, mais bonita...

Wednesday 11 June 2008

Algumas cenas londrinas

Picadilly Circus. Trombadero.


Cercada de vídeo-games de última geração, luzes e sons por todos os lados, uma mulher coberta dos pés a cabeça por sua burca preta e opaca encosta o carrinho de bebê que empurra num canto, enfia algumas fichas no fliperama e prepara-se para a ação.




Bromley. Sábado de sol. 10 am.


O playground do parque está cheio. A grande maioria dos adultos que acompanham as crianças são pais - do sexo masculino! Nenhuma babá uniformizada a vista. Apenas duas mães conversam em um banco, enquanto homens de bermuda empurram balanços e seguram mãozinhas pequeninas no topo do escorrega. Num canto, uma mãe brasileira sorri.






Caminho da escola do Arthur. Manhãs de outono.


As árvores tiram suas folhas aos poucos. A paisagem é colorida de laranja e amarelo, algumas vezes surge, inesperado, um vermelho. Pai e filho - brasileiros - caminham em direção a rotina de mais um dia que começa. Na frente deles, passa e para o caminhãozinho do leite. Sentindo-se nas páginas de um livro infantil, eles observam quando o motorista sai do veículo de proporções também infantis para pegar uma garrafinha de vidro cheia de leite e deixá-la na porta de uma casa de tijolos marrons. Não parece nenhum pouco preocupado com a possibilidade (por qui, é melhor dizer impossibilidade) de algum ladrão chegar primeiro que o dono. Pega então mais uma de suas garrafinhas e já vai entregá-la na segunda casa, quando uma velhinha de quimono abre a porta para recebe-lo e conversar com ele. Todos os dias essa cena se repete. Se pai e filho se atrasam, pegam apenas a despedida da velhinha e seu amigo entregador-de-leite-em-garrafinhas.

Talvez um dia ainda vejam algum ladrão roubar o leite da frente de uma das portas, mas -para completar mais um detalhe da aquarela da pagina em que caminham - o gatuno será mesmo um gato: cinza, lambendo os beiços e de bigodes melados!


Tuesday 10 June 2008

How I wish you were here...

Olhando ao meu em torno, e procurando dentro de mim mesma, vejo o quanto tenho crescido... O quanto minha família de três está mais unida, o quanto os nós que nos prendem um ao outro estão apertados, firmes... Posso enxergar, com a claridade fria de um dia nublado, tudo de bom que essa experiência nos trouxe, nos traz, nos trará...

E, ao mesmo tempo, tenho comigo a saudade...
O buraquinho da falta grita no meu peito... algumas vezes, mais altas que outras...

Ele chama o nome de cada um dos meus amigos
ele cantarola MPB
ele faz as contas dos dias que faltam para a visita dos meus pais
ele fala português

ele não cala

Buraco fundo, esse...

Friday 9 May 2008

Alegrias de Primavera

Agora, que a melancolia se encondeu atras de uma nuvem, é a vez de compartilhar com vocês as pequenas coisas que me enchem a alma de alegria e sol:




  • Caminhar de manhã cedo para o trabalho debaixo de árvores com flores de todas as cores.
  • Cuidar do jardim. Ter um jardim para cuidar!




  • As tulipas. Surrealmente, quase artificialmente, lindas.

  • Ter meu próprio pé de morangos!
  • Ver o Arthur sentado na grama, mexendo com a terra e com os bichos...


  • Deixar a porta aberta da casa para entrar um ar - e não me preocupar com ladrões, assaltos nem nada de ruim...
  • O humor dos londrinos (e o nosso tb!) que, desde que o sol deu as caras, está bem mais agradável.
  • Poder usar short, camiseta e havainas (vcs sabem que aqui elas custam o equivalente a quase 80 reais um par?) !!! É incrivel: Faz um mormasinho, todas as mulheres jáestão com as pernocas brancas de fora!
  • Having dinner outside.
  • Os parques, que são todos tão lindos, como num sonho. Às vezes me sinto na Terra de Oz!!! É engraçado, porém, como a beleza está nos olhos - e no coração - de quem vê. No outro dia, passeando pelo Regent's Park, encontramos um casal de brasileiros, paulistas, e a menina disse que achava o Parque do Ibirapuera muito mais bonito que qualquer parque de Londres... Racionalmente falando, ela está louca ou com um sério problema de visão, no entanto, eu a compreendo perfeitamente... afinal, como diria a própria Dorothy mesmo depois de ter visto todas as maravilhas da terra de Oz: "There's no place like home..."

Monday 28 April 2008

Melancolia de primavera

Os dias têm passado rápido demais. Olho pra frente e logo depois já olho pra trás. Tento correr com o tempo, mas também quero poder apreciar a paisagem, ouvir as batidas do meu coração e o barulho incessante da vida lá fora. Digo a mim mesma, então, para não me apressar. Pego emprestado uma nota de um dos muitos cadernos coloridos da Clarice para me convencer, afinal, "o fim não é para se esbarrar..."

A primavera chegou. O sol me amorna a pele e me pinta as bochechas. Mas que frio é esse em mim? Faço minha própria sombra e o vento sopra de dentro...

Queria ter certezas. Garantias. Queria saber que tudo vai dar certo. Que as flores que nascem hoje não vão morrer amanhã. Mas no fundo sei que ninguém tem o que peço. Nem a vizinha, nem a moça rica, nem brasileiro, inglês ou japonês. Todos estão nessa vida para apostar. Just like me...

Fecho os olhos diante do abismo de cada passo. Se não pulo, me empurram. Devo então sorrir e me lançar. Sentir o vento nos cabelos, a leveza do vôo e a emoção da queda.

Thursday 17 April 2008

Legoland


Uma promessa feita desde o Brasil pra um certo menino moreno, um raríssimo dia azul e - pros padrões londrinos - quente, três trens, um metrô e um ônibus... e nós estávamos na LEGOLAND, em Windsor.




Windsor me pareceu Búzios, com ruas de pedras e lojas lindas e carésimas. O castelo (e o friozinho), porém, me lembrava que estávamos na Europa...

Como o nome diz, na LEGOLAND tudo, ou melhor, muita coisa é feita de lego. Uma banda que tocava, miniaturas de cidades e pontos turísticos famosos, pesonagens, e os próprios brinquedos.




Fomos em uma corredeira de Vikings, em um labirinto, em duas montanhas russas (que o Arthur adorou, por sinal) e em um trenzinho feito de lego, que ia passando por paisagens e situações idem, tudo muito fofo.

Valeu o passeio. Arthur voltou com um sorriso cansado na cara e - como não podia deixar de ser - com um brinquedo de Lego debaixo do braço.



Ps. Compramos na lojinha temática forminhas de gelo em formato de peças de Lego e um saleiro e pimenteiro de cabeças de bonequinhos. Não foi só o Arthur que não resistiu...










Friday 28 March 2008

Piaget e Vigotsky tinham razão...

Cada vez mais faz sentido para mim o papel da interação e da imitação na aprendizagem... Digo isso por que agora sou como uma criança, aprendendo as regras sociais, a língua, os contratos implícitos de como se deve comportar e agir... por isso, mesmo sem ser intencionalmente, mantenho meus olhos bem abertos a todos que me cercam e me pego mts vezes imitando alguém ou tentando pensar se alguém faria ou não tal coisa...

E não sou só eu, não... De um tempo pra cá o Arthur tem arriscado algumas frases em inglês e recentemente passou a falar com uma certa frequência, para chamar a mim e ao Daniel:

- "Come on, guys!"

(usando um entonação bem inglesa, meio cantada)

A gente acha graça e trata de segui-lo, obedecendo às intruções direitinho...

Mas o engraçado é que ontem tivemos uma reunião com a professora dele e, falando sobre os seus progressos no inglês, contamos então essa mania recém adquirida. Ela começou a rir e disse:

"God bless him... It is so me!"

Ficamos felizes que ele esteja tb de olhos abertos para o mundo...

E que, assim como a gente, esteja aprendendo com os outros novas maneiras de estar nesse mundo...

Tuesday 25 March 2008

Páscoa Congelada!!!

Foram quatro dias de feriado aqui. E desde a sexta-feira, que eles chamam de good friday (eu não sei por que, já que supostamente Jesus foi crucificado nesse dia...) até segunda, o tempo que já estava ruim, resolveu piorar... Foi chuva de gelo, um frio de congelar a alma e até neve! Digo até porque aqui em Londres não costuma nevar...

Passamos a Páscoa sobrecarregando o aquecimento aqui de casa, comendo chocolate e vendo tv debaixo do edredon...


Wednesday 12 March 2008

As dores e as delícias das prateleiras do supermercado

    Vamos primeiro às gostosuras...

  1. Fruitcorner - na minha humilde opinião, a melhor iguaria de toda a Inglaterra, por incrível que pareça, é um iogurte sem sabor (mas com mt sabor!) que vem com uma porção separada de compota de fruta. A proposta é vc mesmo misturar a fruta no creminho, na hora de comer, huuuuuummmm... Aqui em casa tem toda manhã... pro dia nascer feliz.

  2. Kit-kats, mentinhas, dark-chocolates e todos da família - chocolate nem deveria contar na lista, afinal, eles são bons aqui e em qualquer outro lugar do planeta, mas o meu carrinho do supermercado faz parada obrigatória na sessão se chocolates por causa do preço (mais barato que no Brasil) e da variedade... ou vai ver isso é uma desculpa que eu me dou para comprar e comer sem culpa!!!

  3. Queijos e vinhos - aqui dá pra comprar um vinho francês bem barato... e tem sempre algum em promoção. Os queijos tb são uma gostosura. Um brie, por exemplo, sai a 76 p um pedação!
  4. Tea - Tem chá de tudo quanto é sabor. E os ingleses bebem muito mesmo, não é lenda, não. Eles tem realmente a hora do chá todos os dias e fazem coisas bizarras como misturar leite... Eca!
  5. Cogumelos - nada de enlatados. Aqui eles são grandes e frescos e custam 68 p uma embalagem grande.
  6. Juices - Já não sinto falta da coca-cola (só do mate mesmo!). Os sucos são maravilhosos. E aqui tb tem um tal de smoothie, que é feito só de polpa, sem água, que tb é mt bom.

Quanto às dores, o troféu vai para os bifes, que são caros e horrorosos e tb para os preços. Um sabonete Dove sai o equivalente a 4 reais e pouco, um creme de leite, 3 reais e tal, o frango então é de chorar: um pacote com três filés de peito custa uns 12 reais na promoção.

Thursday 6 March 2008

Saudades intermitentes...

Todo mundo conhece aquela história de que a palavra saudade só existe na nossa língua... Pois é... Só mesmo ela pra expressar o que me bate vez ou outra no peito, sobre pela garganta e escorre dos olhos bochechas a baixo...

Saudade do barulho do mar de Ipanema... saudade (muita saudade!) do sorriso da minha mãe e do abraço morno do meu pai... saudade de ver tv ao lado das minhas irmãs... das malcriações da Bia e da responsabilidade irritante da Cru... saudade do pão do Zona Sul... saudade das supervisões da Lilian... saudade de ouvir a tia Sílvia contando toda as manhãs sobre o trânsito na Avenida Brasil... saudade de descer o Dona Marta com a Iara, conversando sobre a vida... saudade de almoçar na casa da Sônia... saudade do peixinho da Dedê nas terças-feiras... saudade das longas e mansas conversas com a Dona Zoé... saudade das redes de Maricá... saudade dos assobios intermináveis do meu avô Manuel... de ver a tarde passar na varanda com minha vó Lúcia... saudade da paisagem da prai de Botafogo... saudade dos telefonemas da Débora... de ter que ler quinhentos livros pra fazer um projeto com a Rê... saudade (quem diria!?!) do IP... saudade do musse de abacaxi da minha vó Arlete... saudade de chorar no sofá da Ângela... saudade de comer um bife decente... saudade das reuniões de família mais barulhentas do mundo... saudade do sotaque gostoso da Juliana... saudade dos presentes feitos pela Clá (e da presença dela tb)... saudade de sentir calor... saudade de não me sentir estrangeira... saudade de me sentir em casa...

Saturday 1 March 2008

Caminhando contra o vento

São 7:10 da manhã. Termino rápido de botar a mesa do café, deixo o leite quentinho nas xícaras dos meus dois meninos, que ainda dormem, tb quentinhos nas suas camas. Boto o cachecol, o casaco e, por último, o tênis (contando todas as camadas de roupa, estou devidamente embalada por nada menos que duas blusas, dois casacos e duas calças).
Saio pro frio da manhã (sim, mesmo tão agasalhada, ainda sinto frio). Caminho enquanto boto as luvas e vejo minha respiração se transformar em nuvem e depois em nada. As casas, em sua maioria, são de tijolos vermelhos e sem cercas. Os carros e as mãos das ruas são "do contário", como o título de um livro do Arthur. Aviso a mim mesma pra olhar pro lado "errado" antes de atravessar as pistas. O céu está azul riscado de branco, mas o vento glacial que me empurra pra trás anuncia que não permanecerá assim por muito mais tempo.
Ando, ando e ando. Vou olhando tudo no caminho. Como num aquário. Como da primeira vez. As árvores nuas, tremendo e dançando no vento... A grama bem cuidada do velhinho que mora na esquina... Os canteiros com as cores esbranquiçadas, congelados do frio da madrugada.
Passo pela estação e alguns ingleses passam correndo por mim, provavelmente apressados pra não perder o trem.
Ouço uma voz me chamar. É um menino em seus treze anos. Ele pergunta se eu posso comprar-lhe um cigarro. Pensando que se trata de esmola, respondo que não tenho dinheiro e ele então me diz que me dará o dinheiro. Só aí entendo. Não, não compro. E ele ainda agradece.
Continuo caminhando mais alguns metros até a linha de pedestres desenhada no chão. O trânsito é intenso a essa hora e não há sinais, mas basta um pé meu na rua para que os carros parem. Atravesso sem pressa e alguns passos depois estou na escola onde trabalho. Digito o código de segurança e as portas abrem-se para mim.
Deixo o frio e o vento lá fora e caminho para o novo dia que começa.

Friday 22 February 2008

Uma voltinha pelos museus - Parte II

Durante minha visita aos dois Museus da Infância, senti mt falta dos meus amigos da Psicologia Escolar, os quais - tenho certeza - iriam adorar ver tudo aquilo. Graças ao que aprendi com a Lilian e com eles, pude aproveitar minha visita de um modo especial. Meu convite a uma voltinha nesses museus, portanto, vai principalmente para vcs, meus queridos...

Museum of Childhood (Edinburgh, Scoland)

A entrada parece a de uma lojinha e vc não dá nada por ela, mas, ao entrar, me senti descobrindo um tesouro. São andares e andares de pequenos aposentos com objetos, roupas e brinquedos que mostram como as crianças eram vistas e tratadas ao longo do tempo. Como foram surgindo objetos específicos para o cuidado, a higiene, a alimentação, instrução e divertimento específico delas. Dava até um arrepio na espinha passear pelos corredores repletos de brinquedos com que crianças que realmente existiram, cresceram e morreram, realmente brincaram, se divertiram e sonharam...



Abaixo, as fotos de uma "butcher's shop" (um açougue) de 1880 e uma casinha (ou melhor, uma casona) de bonecas de 1897.


As casinhas de bonecas surgiram nos séculos XVII e XVIII e serviam tanto para os adultos (os ricos, é claro) mostrarem suas coleções de objetos e mobílias (ou seja, era uma casa igual a sua casa real, mas em miniatura) como para as crianças serem instruídas no manejamento e nos serviços de uma casa. A maior que o museu possui têm 18 aposentos, água encanada, luz elétrica e uma lareira.



Museum of Childhood (London)

O Museu de Londres tem uma coleção maior, e com mais objetos recentes, como a coleção da Moranguinho, por exemplo (me deu uma vontade enlouquecida de quebrar o vidro e dar uma cheiradinha pra matar a saudade...) Tb há mt coisa pra as crianças que visitam o espaço se divertirem, como fantasias, instalações, legos até e um tanque de areia, no qual o Arthur se esbaldou (tadinho, ele devia estar com saudade de brincar na areia!).


O que eu mais gostei foram os teatros para marionetes, mas infelizmente as fotos que tirei deles não ficaram boas. Tinha um igualzinho ao do filme da Noviça Rebelde e que, como no filme, tb era usado por uma família rica para entreter os seus convidados.



Dá ou não dá vontade de brincar?


Uma voltinha pelos museus - Parte I

De uma coisa tenho certeza: sou uma pessoa bem mais culta hj do que antes de vir pra Londres. Os museus são gratuitos (alguns pedem uma doação, mas ninguém cobra por ela) e somente as exposições temporárias são pagas. Todos eles tb parecem organizar suas exposições de modo a atrair não só que já se interessa pelo tema, mas todo e qq um. As mostras convidam o visitante a participar do que está sendo mostrado, seja pela forma de perguntas, em que ele se questiona sem receber todas as respostas prontas, seja pelo convite a tocar e experimentar um pouco da sensação de viver em uma outra época ou de fazer ele mesmo, um experimento científico, por exemplo.


Uma outra coisa impressionante é que todos os museus oferecem atividades especiais e guias para crianças e excursões de escola. Eles têm até uma área especial com mesinhas para as turmas lancharem. Com essas facilidades e incentivos, vai-se formando o público futuro - e atual!- para o próprio museu.


Eu fui com o Arthur e a sua turma em uma visita a National Gallery e, por causa disso, aprendi muito sobre História da Arte. É que a guia que o museu disponibilizou para as crianças era simplesmente maravilhosa: ela escolheu umas quatro telas e foi explicando - explicando não, na verdade ela foi contando - a história delas para os alunos. Não sei sobre as crianças, mas eu adorei!



Começo então meu passeio com vcs pela:

National Gallery

Toda obra conta uma história. Essa retrata o ciclo de vida dos girassóis. Reparem que há algumas flores em botão, algumas abertas e outras já murchas.

Vcs sabiam que Van Gogh pintou 4 desses quadros, mas só assinou dois deles? O que está exposto na National Gallery de Londres está assinado. Nessa hora, a guia perguntou para as crianças por que elas achavam que ele assinou "this one".


- "Because he was happy with it." - foi a resposta - mt esperta, por sinal - de um garotinho.


Então sigam o conselho da guia e, nas suas viagens pelo mundo, se vcs virem em algum museu, um dos quadros dos girassóis, procurem a assinatura "Vincent" para saber a opinião do próprio sobre sua pintura.


Science Museum
Eu e Arthur gostamos mt do Launchpad, que é uma área de experimentação, onde as crianças - e por que não os adultos? - podem mexer em tudo e se perguntar sobre os exprimentos que realizaram. Há circuitos para serem montados, bolhas de sabão gigantes para serem assopradas, um fazedor de ondas, um fazedor de eco e mt, mt mais. Ao lado, colei uma figura da Big Machine, que foi o que o Arthur mais gostou e que mostra como as máquinas contruídas e manejadas pelo homem podem fazer as coisas se movimentarem mais facilmente (por meio alavancas, cordas, moinhos, rampas etc).

O museu tb oferece (mas aí tem que pagar!) simuladores e cinemas em 3D. Nós fomos em uma sessão de cinema 3D sobre os Dinossauros.

Vcs sabiam que o o filme em 3D são na verdade dois filmes rodando ao mesmo tempo, um para cada olho?

Vou parar "o tour" por aqui hj e continuo no próximo post, já que, infelizmente, coisas mais mundanas do que a Arte ou a Ciência me aguardam, como a louça do café da manhã, por exemplo.
Ps. Estou feliz por poder compartilhar um pouco - nem que seja bem pouco - do que estou vendo e vivendo aqui, com vcs. A próxima vez vou escrever um pouco sobre os Museus da Infância, o daqui e o de Edinburgh.

Wednesday 20 February 2008

Oh, Happy Day!!!!

O dia do meu aniversário foi cheio de surpresas.

A primeira delas apareceu quando eu estava de saída com o Arthur pro Science Museum (que por sinal, vale um post a parte). Eu apressando ele para não perdermos o trem, quando escuto uma voz - em portuguese - perguntando se eu era brasileira.
- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiim, brasileiríssima! - e, para a minha total felicidade, a dona da voz não só tb era brasileira, como é minha vizinha. Eu moro no 5, e ela no 2.
No caminho para a estação de trem (pois ela tb estava indo pra cidade), fizemos um breve relato da vida inteira. Ela é da Bahia, casada com um inglês que ama o Brasil e tem um filho de 3 anos.
Não sei bem explicar a minha felicidade por esse encontro, mas acho que, qd vc mora fora dá uma vontade danada de encontrar um igual...

Depois de passearmos o dia inteiro no Museu, assistirmos a um filme 3D dos dinossauros (vcs precisavam ver o Arthur com aquele óculos gigante...) e encontrarmos com o Dani, voltamos pra casa bem satisfeitos... E outra surpresa: Flores me esperando enconstadinhas na minha porta azul! Um buquê gigante e lindo, com um cartãozinho da minha família querida e distante! O problema de eu não ter um vaso de flores ainda não foi solucionado, mas elas ficam bonitas mesmo no balde vermelho que eu tive que providenciar no improviso!

A última surpresa foi a quantidade de e-mails e recados no orkut que recebi desejando um feliz aniversário e tantas outras coisas boas. Fiquei - e ainda estou - emocionada de ter tanto carinho ao meu redor.

Terminei o dia comendo brigadeiro (sim, achamos leite condensado e fizemos brigadeiro!) e com o coração suspirando de satisfação...

Sunday 17 February 2008

A volta por cima do Mr. Pato

O dia lindo pedia um passeio no parque. Por dia lindo entenda-se céu azul, sol brilhando e frio de matar. Fomos os três caminhar num parque muito bonito aqui mesmo em Bromley, onde moramos.
Foi lá que vimos esse pato que, como Jesus, caminhava sobre as águas. É que o lago estava congelado.
A gente, já prevendo o que ia acontecer ao pobre coitado, resolveu filmar...
Pena que a bateria da minha câmera acabou, porque depois disso, o pato ficou nadando numa ilha de água, cercado de gelo por todos os lados. Sem saber o que fazer, olhava prum lado e pro outro, certamente pensando - em sua mente de pato - que aquele não era o dia dele...
Foi então que, surpreendentemente, ele juntou suas forçinhas e saiu correndo num impluso, gritando e agitando as asas, deixando um rastro de gelo quebrado rumo a margem...
E o mais engraçado é que depois pareceu estar comentando sua vitória com os outros patos que assistiram a cena, pois ficou um tempão de "qua, qua, qua" com eles, que por sua vez, faziam breves "qua, qua"s em resposta...

Saturday 16 February 2008

Sobre a discrepância entre a Londres - ou qualquer outro lugar - que existe fora e dentro de nós


Pego emprestadas as palavras de Proust...

"...tal como os que empreendem uma viagem para ver com os próprios olhos uma desejada cidade e imaginam que se pode gozar, em uma coisa real, o encanto da coisa sonhada."

(proust, em em busca do tempo perdido, vol. I)

Cenas do trabalho em uma escola...

Tem coisas que não mudam... Seja aqui, seja no Brasil, certas cenas parecem se repetir...

Cena 1
Primeiro dia de trabalho. Duas playworkers, sendo uma delas a supervisora, sentadas conversando enquanto as crianças se divertem by themselves... Não entendo muito do que falam (quase nada, aliás), mas posso distinguir as palavras namorado, o que vc está fazendo agora, namorado de novo... Pela velocidade com que falam e as entonações e caras que fazem, parece se tratar de algo emocionante... Não para as crianças, é claro!




Cena 2
Playstation2 ligado. Todas as crianças se amontoam no banquinho em frente ao aparelho, mesmo as que não estão jogando. Mesmo as que não vão jogar. Em mesas espalhadas pela sala, diferentes brinquedos e jogos permanecem intocados. A playworker se aproxima e pergunta a cada uma das crianças se vão querer o café da manhã. As respostas são todas negativas e os olhares, ancorados na tv. Ninguém parece estar com fome hoje...

Cena 3
Videokê ligado. Uma menina de seus 5 anos escolhe demoradamente a música que pretende cantar. Segundos depois ouve-se os primeiros acordes de “Like a virgin”, da Madonna. E a voz da menina segue, sem errar a letra: “touched for the very first time...”