Monday 4 August 2008

Paris



Paris me lembrou o Rio, não sei exatamente em quê. Talvez no charme, talvez no sol, talvez no verde do Sena e no azul do céu... Talvez no seu contraste com Londres. As ruas são largas, cercadas por prédios suntuosos, todos invariavelmente do mesmo cinza amarelado e morto. Não sei... aos meus olhos Paris tem a luminosidade de Monet, mas lhe faltam as cores de Van Gogh.


As igrejas merecem um parágrafo. São todas tão lindas, tão grandes. A beleza gótica e escura de Notre Dame, o caledoscópio de luz nos vitrais da Saint Chapelle, os seios brancos recortados no céu pela Sacre Coeur... O triste é que, em todas elas, por maiores e mais belas que sejam, não se pode rezar uma missa em paz. Os turistas expulsaram o sagrado. Com suas - ou melhor, nossas - câmeras digitais de 700 fotos, posando com um sorriso de cera ao lado de túmulos, interrompendo preces, pagando um ingresso para entrar e consumindo cada centavo-centímetro do lugar, banalizando o olhar, esvaziando o sentir. Veronique e Clement que o digam - um casal que bravamente tentava se concentar no próprio casamento durante o entra-e-sai globalizado que se dava. Vocês podem me achar dramática e hipócrita, mas de fato me toca perceber que em catedrais tão grandes não caiba nem um dedinho de Deus.


A Champ-Elysee tb me passou um ar de carioquice. Com um charme meio Leblon, é claro. Lojas, cafés com mesinhas na calçada... tudo muito caro e muito lindo, de um chique displicente... O metrô, eu achei totalmente anos 70. Para quem vêm de Londres, aliás, Paris toda parece estar há alguns anos no passado. Não que isso seja ruim, não me entendam mal. É apenas diferente. Diferente o suficiente para me chamar atenção.


Acho que uma das coisas boas dessa viagem foi que eu me dei conta que tão importante quanto para onde você vai é de onde você vem.


Eu fui para Paris, mas vim de Londres.

E antes disso, fui para Londres, mas vim do Brasil.


E por isso meu olhar, ricamente contaminado, vai comparando o que não tem comparação. Vai se admirando com a diversidade e com a semelhança de cada rosto, rua, praça, de cada fim de tarde... Me impressiona muito como o ser humano pode ser tão diferente e ao mesmo tempo tão igual. Como o clima, a história, as relações nos fazem singulares em cada parte do mundo. Os textos da Psicologia sócio-histórica, apresentados para mim pela Lilian, tomam um contorno de realidade e faço das minhas andanças quase que uma pesquisa antropológica.


Na volta para casa - é... Londres agora é minha casa! - carrego uma mala pesada. Nela tem mar de Ipanema e becos de Olaria, tijolos vermelhos de Beckenham, nuvens cinzas de Londres, e agora também, estátuas, vitrais, quadros e a luz de Paris.