Sunday 2 June 2019

Surpresa no jardim!

Era uma vez num começinho de primavera em uma país muito distante, um reizinho que brincava num jardim...


Saturday 23 July 2016

Half open



Estar metade aberta é estar metade fechada
Parte coberta pelas camadas de tempo
Pelas muitas mãos da mãe
Pelas muitas mães
É estar protegida do mundo
Escondendo minha cor
Até de meus próprios olhos
Minha escuridão particular

Minha metade fechada é sobre quem eu quero falar
Num rodamoinho em torno de um umbigo
Cujo cordão ainda está lá

A parte aberta grita
Se faz vermelha
Se faz azul
arregaça sem medo de rasgar
As pétalas vão murchar ao sol do meio dia
Que caiam antes então
Exaustas do esforço de perfumar

Metade em mim
Metade no mundo

Respira
Expira

Exala

Vai

Monday 26 September 2011

Hoje no recreio

 
- I want to tell you something, Will. I am soon going to be going back to my home country and, because of that, I am gonna stop working here, at the school. Actually, this is my last week and Friday will be our last day together at playtime.

William, um menino de seis anos com cabelos selvagens e louros, olha para mim surpreso. Seus olhos são tristes mas ele sorri de leve enquanto suspira: 

- Aaaahhhhhhh...

Ele para e pensa por um momento, sentado no trem de madeira no meio de playground. Ele olha nos meus olhos, mais um sorriso e diz, no mesmo tom sério e amoroso, quase cantado, que muitas vezes usei com ele nos meses em que trabalhei na escola.
Um tom de adulto falando com criança,
pai com filho:

- You make the most of it, ladie!

Obrigada, Will. Vou levar esse momento no meu coração.
E tantos outros.

E certamente, I'll make the most of it.

Thursday 4 August 2011

Para a bárbara bailarina

Ela andava na corda bamba. A saia de filó se abria num círculo azul, desenhando uma flor ao redor de sua cintura fina. Mais alguns passos. Não olhe para baixo. Siga sempre em frente, sempre em frente... Mas a queda sob a corda também a queria. Também ela cantava sua melodia, como uma sereia que tenta os pescadores para prazeres desconhecidos no fundo do mar. Ouvia os tambores. A respiração presa do público. E o rufar dentro seu peito. Tinha os braços esticados. Como se voasse. Só mais alguns passos. Asas prontas. E uma flor azul que plaina, levada pela brisa da primavera.

Thursday 23 June 2011

While my eyes...

Aprendi a amar meu exílio
Essa Terra de Robins e sem Sabiás
Esse céu da cor do mar de ressaca
Esse frio que faz precioso o sol

O trem me leva pra longe
cada vez mais
Plantação de chaminés caladas
vidas desconhecidas
casas enfileiradas portas coloridas

Sento na grama sempre úmida do meu jardim
perfume de hortelã e manjericão
e da saudade que vem no vento
Primavera, outono, verão

A porta me chama
O cão late
O marido chega
A noite não

Tudo passa
Ontem é hoje
E já vou com o amanhã

Vou voltar pra minha casa
e deixar minha casa pra trás
mala pesada
dois corações num peito pequeno demais

Quantas vidas que não vivi?
Por uma só as deixei

No fim nada importa
Levo nas mãos outras mãos apenas
Levo nos pés o caminho

As guerras
de bola de neve,
de amoras com Arthur
conchas com Daniel
o sorriso de William
a solidão de Denise
histórias em torno de uma fogueira
e na beira de uma cama
viagens sonhadas e vividas
encontros
lugares
amigas que poderiam ter sido pra sempre

e pedaços de felicidade.

Saturday 2 April 2011

The years shall run like rabbits...

E eis que tenho trinta e um.

As fotos de meus amigos no Facebook mostram estranhos, adultos que tomaram lugar dos adolescentes com quem vivi aventuras e dias de tédio que pareciam durar para sempre. Se foram aquelas horas... as de amor, as de tristeza, os problemas que pareciam insolúveis... Foram todos.

Tenho outros agora. Parecem-me insolúveis também. E os amores eternos, e as tristezas, avassaladoras. Irão-se todas um dia. E meu sorriso de mulher e mãe dará lugar a outra face. A face de uma estranha a que o tempo ainda há de me apresentar.

Assisti num outro dia um filme de amor no qual o casal só tem um dia juntos. E justamente por isso o que sentem um pelo outro dura a vida toda.

Foi nesse filme que ouvi um pedaço do poema abaixo, que agora, leio todo e posto para vocês.
Poema sobre o tempo.
A única coisa nesse mundo de paixões e desgraças,
de beleza e pavor,
a única coisa
que vai existir para sempre.



And the years will run like rabbits

As I Walked out one Evening



As I walked out one evening,
Walking down Bristol Street,
The crowds upon the pavement
Were fields of harvest wheat.


And down by the brimming river
I heard a lover sing
Under the arch of a railway
"Love has no ending.


'I'll love you dear, I'll love you
Till China and Africa meet,
And the river jumps over the mountain
And salmon sing in the street,


'I'll love you till the ocean
Is folded and hung up to dry
And the seven stars go squaking
Like geese about the sky.


The years shall run like rabbits,
For in my arms I'll hold
The Flower of the Ages,
And the first love of the world.'

But all the clocks in the city
Began to whirr and chime:
'O let not Time deceive you,
You cannot conquer Time.

'In the burrows of the Nightmare

Where Justice naked is,

Time watches from the shadow
And coughs when you would kiss.
'In headaches and in worry

Vaguely life leaks away,
And Time will have his fancy
To-morrow or to-day.

'Into many a green valley

Drifts the appalling snow;
Time breaks the threaded dances
And the diver's brilliant bow.


'O plunge your hands in the water,
Plunge them in up to the wrist;
Stare, stare into the basin
And wonder what you've missed.


'The glacier knocks on the cupboard,
The desert sighs in the bed,

And the crack in the tea-cup opens
A lane to the land of the dead.

'Where the beggars raffle the banknotes

And the Giant is enchanting to Jack,

And the Lily-white Boy is a Roarer,

And Jill goes down on her back.
 'O look, look in the mirror,

O look in your distress;

Life remains a blessing

Although you cannot bless.

'O stand, stand in the window

As the tears scald and start;

You shall love your crooked neighbor

With all your crooked heart.'
 It was late, late in the evening,

The lovers they were gone;

The clocks had ceased their chiming,

And the deep river ran on.



-W.H. Auden


Monday 21 March 2011

Minha invencível, ingrata e diária guerra particular

A sala me encara de volta, com a petulância de quem sabe que tem a batalha ganha. Casacos de diferentes tamalhos cobrem as cadeiras como armaduras, cadernos e livros se amontoam numa pilha no canto prestes a atacar, duas bolsas amarelas com roupas para passar me encaram desafiantes. E há ainda poeira nos móveis, terra vinda do jardim, porpurina de um projeto da escola do Arthur...

Não foi ainda ontem que eu venci essa guerra?

Me sinto como num video-game de zumbis imortais.
Tem dia que balanço a bandeira branca sem nem tentar, derrotada pela enormidade do desafio.
Tem dia que vou pra luta, aspirador em punho, e depois de algumas horas de suor, descabelada e arrasada, saboreio a ilusão da batalha vencida.

Estou exagerando? Sou uma patricinha tomando um choque de realidade?
Provavelmente.

Mas é que arrumar a casa 1 vez ao dia, lavar a louça 3, varrer, espanar, botar a mesa, tirar a mesa, arrumar a cama, lavar roupa, passar roupa, fazer faxina no banheiro e na cozinha... (ai, canso até de listar!) me parece nada mais que um desperdício de mim mesma, do meu tempo limitado nesse mundo.
É ou não é?

Como diz o Daniel citando o Gil Brother, sou mesmo da geração "leite-com-pêra" e me envergonho um pouco dessa pena de mim mesma que me bate quando encaro minha atual condião de dona de casa... Mas não consigo evitar de pensar que não era isso que eu queria estar fazendo do meu dia. E que a batalha contra a bagunça é vencida apenas temporariamente...

Entropia, meus amigos. Não há como derrotar as leis da física.

Caos.
Fora - e muitas vezes - dentro de mim.