Friday 28 March 2008

Piaget e Vigotsky tinham razão...

Cada vez mais faz sentido para mim o papel da interação e da imitação na aprendizagem... Digo isso por que agora sou como uma criança, aprendendo as regras sociais, a língua, os contratos implícitos de como se deve comportar e agir... por isso, mesmo sem ser intencionalmente, mantenho meus olhos bem abertos a todos que me cercam e me pego mts vezes imitando alguém ou tentando pensar se alguém faria ou não tal coisa...

E não sou só eu, não... De um tempo pra cá o Arthur tem arriscado algumas frases em inglês e recentemente passou a falar com uma certa frequência, para chamar a mim e ao Daniel:

- "Come on, guys!"

(usando um entonação bem inglesa, meio cantada)

A gente acha graça e trata de segui-lo, obedecendo às intruções direitinho...

Mas o engraçado é que ontem tivemos uma reunião com a professora dele e, falando sobre os seus progressos no inglês, contamos então essa mania recém adquirida. Ela começou a rir e disse:

"God bless him... It is so me!"

Ficamos felizes que ele esteja tb de olhos abertos para o mundo...

E que, assim como a gente, esteja aprendendo com os outros novas maneiras de estar nesse mundo...

Tuesday 25 March 2008

Páscoa Congelada!!!

Foram quatro dias de feriado aqui. E desde a sexta-feira, que eles chamam de good friday (eu não sei por que, já que supostamente Jesus foi crucificado nesse dia...) até segunda, o tempo que já estava ruim, resolveu piorar... Foi chuva de gelo, um frio de congelar a alma e até neve! Digo até porque aqui em Londres não costuma nevar...

Passamos a Páscoa sobrecarregando o aquecimento aqui de casa, comendo chocolate e vendo tv debaixo do edredon...


Wednesday 12 March 2008

As dores e as delícias das prateleiras do supermercado

    Vamos primeiro às gostosuras...

  1. Fruitcorner - na minha humilde opinião, a melhor iguaria de toda a Inglaterra, por incrível que pareça, é um iogurte sem sabor (mas com mt sabor!) que vem com uma porção separada de compota de fruta. A proposta é vc mesmo misturar a fruta no creminho, na hora de comer, huuuuuummmm... Aqui em casa tem toda manhã... pro dia nascer feliz.

  2. Kit-kats, mentinhas, dark-chocolates e todos da família - chocolate nem deveria contar na lista, afinal, eles são bons aqui e em qualquer outro lugar do planeta, mas o meu carrinho do supermercado faz parada obrigatória na sessão se chocolates por causa do preço (mais barato que no Brasil) e da variedade... ou vai ver isso é uma desculpa que eu me dou para comprar e comer sem culpa!!!

  3. Queijos e vinhos - aqui dá pra comprar um vinho francês bem barato... e tem sempre algum em promoção. Os queijos tb são uma gostosura. Um brie, por exemplo, sai a 76 p um pedação!
  4. Tea - Tem chá de tudo quanto é sabor. E os ingleses bebem muito mesmo, não é lenda, não. Eles tem realmente a hora do chá todos os dias e fazem coisas bizarras como misturar leite... Eca!
  5. Cogumelos - nada de enlatados. Aqui eles são grandes e frescos e custam 68 p uma embalagem grande.
  6. Juices - Já não sinto falta da coca-cola (só do mate mesmo!). Os sucos são maravilhosos. E aqui tb tem um tal de smoothie, que é feito só de polpa, sem água, que tb é mt bom.

Quanto às dores, o troféu vai para os bifes, que são caros e horrorosos e tb para os preços. Um sabonete Dove sai o equivalente a 4 reais e pouco, um creme de leite, 3 reais e tal, o frango então é de chorar: um pacote com três filés de peito custa uns 12 reais na promoção.

Thursday 6 March 2008

Saudades intermitentes...

Todo mundo conhece aquela história de que a palavra saudade só existe na nossa língua... Pois é... Só mesmo ela pra expressar o que me bate vez ou outra no peito, sobre pela garganta e escorre dos olhos bochechas a baixo...

Saudade do barulho do mar de Ipanema... saudade (muita saudade!) do sorriso da minha mãe e do abraço morno do meu pai... saudade de ver tv ao lado das minhas irmãs... das malcriações da Bia e da responsabilidade irritante da Cru... saudade do pão do Zona Sul... saudade das supervisões da Lilian... saudade de ouvir a tia Sílvia contando toda as manhãs sobre o trânsito na Avenida Brasil... saudade de descer o Dona Marta com a Iara, conversando sobre a vida... saudade de almoçar na casa da Sônia... saudade do peixinho da Dedê nas terças-feiras... saudade das longas e mansas conversas com a Dona Zoé... saudade das redes de Maricá... saudade dos assobios intermináveis do meu avô Manuel... de ver a tarde passar na varanda com minha vó Lúcia... saudade da paisagem da prai de Botafogo... saudade dos telefonemas da Débora... de ter que ler quinhentos livros pra fazer um projeto com a Rê... saudade (quem diria!?!) do IP... saudade do musse de abacaxi da minha vó Arlete... saudade de chorar no sofá da Ângela... saudade de comer um bife decente... saudade das reuniões de família mais barulhentas do mundo... saudade do sotaque gostoso da Juliana... saudade dos presentes feitos pela Clá (e da presença dela tb)... saudade de sentir calor... saudade de não me sentir estrangeira... saudade de me sentir em casa...

Saturday 1 March 2008

Caminhando contra o vento

São 7:10 da manhã. Termino rápido de botar a mesa do café, deixo o leite quentinho nas xícaras dos meus dois meninos, que ainda dormem, tb quentinhos nas suas camas. Boto o cachecol, o casaco e, por último, o tênis (contando todas as camadas de roupa, estou devidamente embalada por nada menos que duas blusas, dois casacos e duas calças).
Saio pro frio da manhã (sim, mesmo tão agasalhada, ainda sinto frio). Caminho enquanto boto as luvas e vejo minha respiração se transformar em nuvem e depois em nada. As casas, em sua maioria, são de tijolos vermelhos e sem cercas. Os carros e as mãos das ruas são "do contário", como o título de um livro do Arthur. Aviso a mim mesma pra olhar pro lado "errado" antes de atravessar as pistas. O céu está azul riscado de branco, mas o vento glacial que me empurra pra trás anuncia que não permanecerá assim por muito mais tempo.
Ando, ando e ando. Vou olhando tudo no caminho. Como num aquário. Como da primeira vez. As árvores nuas, tremendo e dançando no vento... A grama bem cuidada do velhinho que mora na esquina... Os canteiros com as cores esbranquiçadas, congelados do frio da madrugada.
Passo pela estação e alguns ingleses passam correndo por mim, provavelmente apressados pra não perder o trem.
Ouço uma voz me chamar. É um menino em seus treze anos. Ele pergunta se eu posso comprar-lhe um cigarro. Pensando que se trata de esmola, respondo que não tenho dinheiro e ele então me diz que me dará o dinheiro. Só aí entendo. Não, não compro. E ele ainda agradece.
Continuo caminhando mais alguns metros até a linha de pedestres desenhada no chão. O trânsito é intenso a essa hora e não há sinais, mas basta um pé meu na rua para que os carros parem. Atravesso sem pressa e alguns passos depois estou na escola onde trabalho. Digito o código de segurança e as portas abrem-se para mim.
Deixo o frio e o vento lá fora e caminho para o novo dia que começa.