Thursday 16 December 2010

Bittersweet comments about myself and the others...

Tenho estado num mau-humor danado com os ingleses. E vice-versa.

Não é que eu, ou melhor, nós não tenhamos motivos para isso: o inverno chegou com tudo, acordamos antes do sol e lanchamos já sem ele... mesmo no meio do dia a escuridão se anuncia, manchando tudo de um cinza triste... ou seja, perdoem-nos a falta de sorrisos, mas é que tá f....!!!!

Eu tenho andado tão irritada com eles que aproveito qualquer oportunidade pra falar mal daqui... falo mal da política conservadora pela qual eles votaram e agora tá descascando o couro de todo mundo - "bem feito!!!"... Falo da falta de entusiasmo deles pela vida, da excelente qualidade de vida a que eles tem acesso e que ainda assim não lhes proporcina a felicidade, a espontaneidade e a descontração que sobra ao meu povo.... Falo da educação, cheia de recursos e ideais, mas que ao mesmo tempo legitima o poder e a superioridade do adulto em relação a criança, em cenas cotidianas que beiram a humilhação.... Falo das filas, do consumismo, da culinária de cocô que eles tem...

Não sei... talvez eu começo inconscientemente a querer me certificar de que aqui não é mesmo o meu lugar... talvez seja um primeiro passo rumo ao adeus que se anuncia no horizonte... afinal, se eles são tão ruins, não haverá motivo de tristeza ou saudade na hora de ir embora...

maybe...

may be...

eu sou assim: melodrámática nos meus ódios... e também nos meus amores.




Wednesday 1 September 2010

Um post para Bruna

Minha irmã me pediu pra eu escrever no blog. Confesso que sou uma preguiçosa por natureza e sou demais complacente com essa minha qualidade. Quase que me orgulho dela e certamente a alimento...

Enfim, tenho passado por momentos inspiradores que, em mãos mais dedicadas, poderiam virar páginas e páginas de divagações, mas no meu caso, não quero escrever sobre nenhum deles...

Minha irmã me pediu que eu escrevesse no Blog. Então o post, que é para ela, vai ser também sobre ela:

Bruna fazia tudo sempre certo. Comia vegetais. E não bebia coca-cola. Namorava há muitos e muitos anos um mesmo rapaz. E era fiel. Cedia. Não esquecia de aniversários. Fazia o dever de casa. E tirava 10. Bruna era bonita, inteligente e educada.

E ainda sim, alguma coisa borbulhava nas suas entranhas e ameaçava escapar-lhe do peito. Alguma coisa que era também ela mesma e por isso mesmo, a amedrontava e tirava-lhe o sono...

Um dia Bruna matou a aula. Nadou pelada no mar do arpoador. Almoçou Doritos. Deu um bolo no namorado e foi fazer a unha dos pés. Disse não para o mendigo. Olhando-o nos olhos. Se esfoçou em por pelo menos um palavrão em cada frase.


E quando chegou em casa, exausta do dia de maldades, não tomou banho. E com o cabelo ainda cheio do sal e areia da praia, sentou na cadeira e desenhou. Desenhou com uma paixão de rasgar o papel. Cores que não combinavam. Vermelho, preto e roxo. Traços tremidos...

E dormiu em cima do papel, o sono pesado dos justos....



Fim.


Ps. Esse texto é uma licença poética. Bruna na verdade não é toda certinha... Nem muito menos toda amalucada! Ela fala palavrão e dá chilique. Mas também é doce e prestativa. Um ser humano saudável e que me inspira a textos, divagações e projeções.... Minha Bruna tem Preto, vermelho e roxo, mas também branco e azul turqueza... traços tremidos desenhando um rosto de olhar firme... um rosto de mulher.

Thursday 17 June 2010

Meus diálogos com o Eddy...

Dominada por um impulso de proporções kilométricas e por um amor de dimensões infinitas, resolvi dar um cachorrinho de presente de aniversário para o Arthur. Claro que não devo também subestimar o papel que eterna culpa desempenhou na minha decisão (como se não bastassem os inevitáveis traumas que minhas neuroses infligiram no menino, ainda arrastei o pobre pruma terra gelada e inóspita!).

O Daniel ainda avisou, e até rogou praga, de que eu iria me arrepender de não comprar um gato (segundo o meu marido, eles se auto-limpam e se auto-cuidam, só precisando ocasionalmente de você para pagar as contas).

Bem, a praga funcionou, pois uma semana e quinhentos cocôs no tapete do corredor depois, eu já estava amargamente, desesperadamente e completamente arrependida!
O bicho é uma máquina de necessidades! E - ponto comum com os gatos - ainda precisa de você para pagar as contas!!! Que não são poucas, aliás...

Como passo o dia inteiro sozinha com o Eddy, me pego tendo os mais bizarros diálogos - ou será monólogos? - com ele. Enquanto eu lavo a cotidiana pilha de louça na cozinha, reclamo sem parar - e muito entusiasticamente - do cachorro... para ele mesmo!

Lá estou eu me referindo a mim mesma na terceira pessoa como "a vovó" e dramaticamente enumerando as razões pelas quais ele merece minhas broncas e as ainda mais numerosas razões pelas quais "a vovó" nao merece ainda mais trabalho do que já tem.

E lá está ele me olhando impassível, com a cabecinha ligeiramente inclinada e sem piscar os olhos redondos, numa expressão que só posso identificar como pena de mim ou dele mesmo.

Imagino que o coitado tenta compreender porque cargas dágua eu fui tirar ele da lojinha na qual ele morava e se divertia com amigos peludos e igualmente mal-cheirosos, e até paquerava uma buldoguesinha bem feinha de cara, mas com um rabinho bem bonitinho...

Rspondendo a sua pergunta muda, penso na imensa alegria que senti ao - ainda menina - ganhar a Naná - uma poodle preta e miúda de presente dos meus pais... Penso na árvore dela, crescendo no jardim de Maricá.
Penso em um menino solitário e sensível, sem irmãos ou primos e longe dos avós e de todo o mundo que sabe o quanto ele é especial...
Penso nas risadas que já demos desde que o Eddy chegou, nas caminhadas que ele nos faz dar, nas portas da sala, que agora vivem abertas para o jardim, no convite que ele me faz a ser adulta e responsável pelas minhas escolhas e pela minha família...

- Eddy, não me leve a mal, eu sei que a vovó é chatinha, mas é só porque você nao entende, viu? A vovó te ama já, mesmo você sendo fedorendo desse jeito... - e, prendendo a respiração, dou um demorado abraço no nosso cachorrinho, porque carinho com certeza ele entende!

Thursday 27 May 2010

Arte, amigos e um post pequeno demais

Em novembro do ano passado começei a fazer um curso em Arte aplicada a Terapia e Educacão.

Só a pronúncia do tema, já me enche a boca d'agua. Vocês enteriam só de ver o prédio onde estudo. É tudo tão lindo e inspirador, todo pintado a mão, mesmo no banheiro tem rosas pelas paredes.

Com a ajuda financeira dos meus pais e o apoio do meu marido querido, consegui pagar e frequentar o curso durante todos esses meses. Aprendi um bocado sobre como usar argila, pintura, corpo e movimento, música e fantoches num processo terapêutico, mas também aprendi bastante sobre mim mesma.

Os meus talentos, adormecidos um por cima do outro, amontoados num bolinho bolorento na boca do estômago, foram acordados por um sol forte na cara e a promessa de um dia bonito lá fora.

Esse curso me deu - e me dá - vontade de ser eu mesma. De procurar, desenvolver e ofertar o que tenho de bom e único em mim.

Quero sim ser psicóloga! Quero sim trabalhar com arte! Posso sim, os dois!!!!

E, como se já não bastasse ter me posto nas mãos a bússula para os meus desejos e capacidades profissionais, o curso me deu de bônus 14 amigas!

Inacreditavelmente, hoje posso dizer que tenho amigas aqui na Inglaterra. E 14 delas!!!! Mulheres sensíveis, parceiras numa busca por mais, por melhor! Com elas divido a cada sexta-feira, segredos impublicáveis, abraços demorados, conselhos em inglês, litros de lágrimas, risadas histéricas e intermináveis caixas de bombom... Minhas amigas são inglesas, húngaras, irlandesas, polonesas, indianas... mas não importa, com elas estou em casa.

Melhor parar por aqui, não cabe tanto contentamento num simples post. Para traduzir com exatidão a felicidade de se ter sonhos e amigos, só se o post fôsse um livro, uma obra de arte, ou um abraço.

Sunday 9 May 2010

Epifanias sobre o tempo, num dia das maes melancolico...

Tres quase anos se passaram desde que nos tres viemos, com muito medo e esperanca no coracao, morar nessa ilha chamada Reino Unido. Parece que foi mais, mas parece que foi tao rapido...
Nove quase anos se passaram desde que nos dois, tambem com muito medo e esperanca no coracao,viramos uma famila, numa manha chuvosa de um domingo das maes, como hoje. Mais uma vez parece mais, mas parece que foi tao, tao rapido...
E finalmente, trinta anos completos se passaram desde que eu entrei nesse mundo - certamente com medo e talvez uma esperanca crua e sem nome num coracao ainda novo, sem dor ou cicatriz.... Parece mais? Passou rapido?

As coisas acontecem, encontros, despedidas, estacoes do ano e viagens... somos ainda criancas a chamar por nossas maes num momento de desespero, somos adultos cuidando de um menino e torcendo de toda a alma que estejamos fazendo nosso melhor...
O tempo, esse nada que nos come e nos alimenta, esses dias que se estendem nos dias de paz e se encurtam na alegria demasiada ou na tragedia absoluta, essa vida com uma morte anunciada, uma promessa de fim, um agora que nos escapa...

O tempo e a vida me vieram visitar o coracoa hoje. Presente de um dia das maes. Presente.