Saturday 1 March 2008

Caminhando contra o vento

São 7:10 da manhã. Termino rápido de botar a mesa do café, deixo o leite quentinho nas xícaras dos meus dois meninos, que ainda dormem, tb quentinhos nas suas camas. Boto o cachecol, o casaco e, por último, o tênis (contando todas as camadas de roupa, estou devidamente embalada por nada menos que duas blusas, dois casacos e duas calças).
Saio pro frio da manhã (sim, mesmo tão agasalhada, ainda sinto frio). Caminho enquanto boto as luvas e vejo minha respiração se transformar em nuvem e depois em nada. As casas, em sua maioria, são de tijolos vermelhos e sem cercas. Os carros e as mãos das ruas são "do contário", como o título de um livro do Arthur. Aviso a mim mesma pra olhar pro lado "errado" antes de atravessar as pistas. O céu está azul riscado de branco, mas o vento glacial que me empurra pra trás anuncia que não permanecerá assim por muito mais tempo.
Ando, ando e ando. Vou olhando tudo no caminho. Como num aquário. Como da primeira vez. As árvores nuas, tremendo e dançando no vento... A grama bem cuidada do velhinho que mora na esquina... Os canteiros com as cores esbranquiçadas, congelados do frio da madrugada.
Passo pela estação e alguns ingleses passam correndo por mim, provavelmente apressados pra não perder o trem.
Ouço uma voz me chamar. É um menino em seus treze anos. Ele pergunta se eu posso comprar-lhe um cigarro. Pensando que se trata de esmola, respondo que não tenho dinheiro e ele então me diz que me dará o dinheiro. Só aí entendo. Não, não compro. E ele ainda agradece.
Continuo caminhando mais alguns metros até a linha de pedestres desenhada no chão. O trânsito é intenso a essa hora e não há sinais, mas basta um pé meu na rua para que os carros parem. Atravesso sem pressa e alguns passos depois estou na escola onde trabalho. Digito o código de segurança e as portas abrem-se para mim.
Deixo o frio e o vento lá fora e caminho para o novo dia que começa.